segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Entrevista com Chris Cleave

A Intrínseca, há alguns meses atrás, pediu para que os leitores fizessem perguntas para o escritor Chris Clave, pelo Facebook. O escritor de "A Pequena Abelha" teria que escolher uma pergunta e a Intrínseca, enviaria um exemplar do livro para o autor da pergunta escolhida. Agora, eles disponibilizaram a entrevista e o Books in my life, traz para vocês as perguntas e as respostas. Eu li a entrevista e adorei todas as respostas. A minha foi respondida e estará marcada para vocês saberem qual é.



Pequena Abelha é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. E então, uma delas precisa tomar uma terrível decisão, daquelas que, espera-se, nunca se ter de enfrentar. Uma história emocionante, que fica ainda mais especial quando lida sem grandes detalhes prévios sobre a trama.
Através do site de Pequena Abelha pedimos aos leitores que entrevistassem o autor, Chris Cleave. O leitor com a melhor pergunta, escolhida por Chris, ganha um livro da editora à escolha. O resultado, anunciado pelo próprio, está logo abaixo.
“Obrigada pelas ótimas perguntas. Fico muito feliz pelas pessoas lerem meu livro e por fazerem perguntas tão reveladoras.
Como preciso escolher uma pergunta favorita, escolho a da Soraya Felix.
Cheers!
Chris”

Filipe Malkavian Machado Pequena Abelha é sobre decisões a serem tomadas e a interferência delas na nossa vida. Como a decisão de escrever esse livro influenciou sua vida e a das pessoas à sua volta?
Decidi escrever um livro que fosse desafiador – tanto para quem o lê quanto para quem escreve – e, durante minha pesquisa, tomei conhecimento de muitas coisas que gostaria de poder esquecer. Por exemplo, aprendi bastante sobre a violência e a tortura das quais muitos refugiados tentam escapar. Fiquei chocado ao ver como os seres humanos podem ser cruéis uns com os outros, e esse conhecimento mudou minha vida em dois aspectos. Em primeiro lugar, tornei-me imensamente grato por ter, até hoje, tido uma vida calma, feliz e privilegiada (nunca mais vou considerar minha sorte algo natural). Em segundo lugar, tornei-me intolerante com políticos e empresários que não se importam com o custo humano de seus atos e negócios nas partes mais problemáticas do mundo. Nunca acreditei no mal antes de escrever Pequena Abelha, mas agora acredito. O mal é a busca por dinheiro a custa do sofrimento humano, e esse é um dos maiores objetivos da sociedade em que vivemos. E, para ser bem honesto, isso me deixa exausto, doente e frustrado. Esse romance representou uma virada na minha vida. Antes de escrevê-lo, eu achava que fazia parte da sociedade. Mas agora sinto que faço parte da força que quer transformá-la.

Dani Fuller Que assunto você considera interessante, adoraria escrever sobre, mas acha de certa forma difícil desenvolver para um livro?
Tenho muito interesse em genética e na maneira como, num futuro próximo, a evolução humana será mais influenciada pelas escolhas que tomaremos do que pelo caráter aleatório da reprodução sexual. Acho que esse será um período fantástico da humanidade, e que pessoas nascidas no próximo século nos farão parecer muito primitivos. Mas é claro que as grandes questões morais continuarão existindo: caridade, amor, sacrifício. Também acho que as novas tecnologias genéticas serão excludentes sociais, e não só porque apenas os ricos terão acesso a ela. Então, estou me esforçando muito para descobrir uma maneira de escrever algo que fale sobre tudo isso. É uma tarefa complicada por dois motivos. Primeiro, porque as pesquisas sobre genética são muito técnicas e é difícil entender em que ponto elas estão e como irão se desenvolver. Segundo, porque é muito trabalhoso escrever uma obra de ficção que tenha como cenário o futuro. O principal problema está na necessidade de ser mais descritivo do que numa história contemporânea ou histórica, e, a menos que você seja muito cauteloso, sempre soará como… Bem, ficção científica!

Soraya Felix Uma decisão terrível é aquela que contraria sua natureza ou aquela que você tem medo de tomar porque o obrigará a lidar com as consequências?
Meu pai costuma dizer, e eu acho muito inteligente, que uma decisão é algo que se precisa tomar quando não há uma resposta certa. Quando a coisa certa a fazer é óbvia, não se hesita, faz-se. Quando o correto não é óbvio, é preciso tomar uma decisão. Por exemplo, você talvez tenha que escolher entre dois homens. Talvez goste dos dois, mas um deles tem uma risada fantástica e o outro é incrivelmente ético. Para ser sincero, você decidirá que pode ser perfeitamente feliz com qualquer um deles. Portanto, essa pode ser uma decisão difícil, mas provavelmente não terá nenhuma consequência ruim. Uma decisão terrível é aquela em que todas as consequências serão ruins. A clássica decisão terrível é conhecida como “A escolha de Sofia”, onde uma mulher deve decidir qual de seus dois filhos deve morrer. A decisão que Sarah e Andrew precisam tomar na praia é uma variante menos trágica da “escolha de Sofia” – eles precisam decidir se cortarão um dedo para salvar a vida de uma menina. Precisam decidir se preferem sentir uma dor física por um curto tempo ou uma dor moral por muito tempo. De qualquer forma haverá dor, e essa é uma decisão terrível.

Nauane Karoline Brazolino Dias Como você se sentiu quando descobriu que seu livro iria virar um filme? E o que acha de Nicole Kidman no papel principal?
Fiquei muito feliz quando descobri que iriam filmar o livro, e ainda mais quando soube que Nicole Kidman iria interpretar Sarah. Acho que ela é uma atriz maravilhosa e tem uma força e um poder que serão usados brilhantemente no papel. Não conheço muitas atrizes que conseguiriam fazer o papel de alguém glamoroso e que também seja moralmente engajado. Meu primeiro romance também virou filme, então conheço o processo e aprendi com meus erros da primeira vez. Dessa vez não vou me envolver no processo criativo. Confio nas pessoas envolvidas no projeto e não vou atrapalhá-los. Penso que, com Nicole Kidman e a BBC Films, existe todas as chances de ser um grande filme. Espero que o filme seja bem-sucedido, porque eu gostaria de ver o público interessado na vida extraordinária dos refugiados.
Greiciely Santos Você acha que histórias tocantes, como a de Pequena Abelha, podem levar as pessoas a adquirirem mais humanidade? Como essa influência ocorreria?
As pessoas são fascinadas por histórias por dois motivos: primeiro, porque elas nos lembram que a vida dos outros é bem diferente da nossa, e segundo, porque elas nos lembram que não estamos sozinhos, e que outras pessoas vivenciam os mesmo sentimentos que nós, mesmo quando têm vidas diferentes da nossa. Por esses motivos, uma boa história é ambiguamente provocadora e confortante. Acho que a experiência compartilhada de ler um romance ou assistir a um filme nos faz sentir mais conectados como seres humanos. Imagine um mundo sem histórias! Essa seria a minha visão de inferno.

Hale Sweet Você se emocionou com algum personagem enquanto escrevia Pequena Abelha?
Sim, me emocionei enquanto escrevia as cenas com Charlie, também conhecido no livro como Batman. Charlie foi baseado em um de meus filhos, que tinha três anos na época em que escrevi o livro. Usei a linguagem dele para criar a voz do personagem e, quando isso foi feito, foi impossível não ver o personagem nas expressões do meu filho. E então, quando o personagem vivenciava cenas traumáticas – por exemplo, a cena em que Charlie vai ao enterro do pai – foi inviável não imaginar meu filho na mesma situação, e isso foi muito difícil emocionalmente. Um dos desafios nos tipos de história que escrevo é o fato de elas serem escritas em que elas são escritas em primeira pessoa e em diálogo: é preciso ficar imerso nos personagens por meses, ou até anos, e é difícil não sentir o que eles estão sentindo.

Aurilene Vieira No mundo relativamente complexo em que vivemos você consegue passar com o livro uma torrente de emoções. Você vivenciou algum fato narrado no seu livro ou se baseou em alguém que conheceu?
Não, nunca vivi nada parecido com o que acontece no livro, ainda bem. Tudo o que escrevo tem o objetivo de apresentar uma questão moral interessante para as pessoas. Eu transformo essa questão em uma história, e depois preencho a história com personagens, e os desenvolvo por meio de pesquisa e intuição. Não baseio as histórias em experiências reais porque elas geralmente são muito complexas para serem transformadas em bons romances!

Gabriel Scombatti Se pudesse fazer apenas uma coisa por um refugiado, o que você faria?
A ação mais importante que podemos fazer por um refugiado é aprender a vê-lo como ser humano, alguém igual a nós, que faz o que faríamos na mesma situação. Quando atravessamos a barreira da empatia, vemos que existem muito mais coisa que podemos fazer pelos refugiados, e tudo acontece naturalmente. Tudo começa quando passamos a vê-los como pessoas e não problemas.

Ana Carolina Silveira Ardente Qual foi a sua maior motivação para não desistir de escrever Pequena Abelha?
Descobri que meu país estava fazendo coisas vergonhosas com os refugiados, que são as pessoas mais vulneráveis no planeta, e percebi que não queria fazer parte de uma sociedade que maltrata seus membros mais frágeis. Então quis tentar mudar a mentalidade das pessoas sobre refugiados, e acho que escrever uma história é uma maneira mais eficiente de fazer isso acontecer do que dar uma palestra. Essa foi a minha motivação para esse projeto.

Dayse Dantas Quanto do seu conhecimento em psicologia interfere nos personagens e na história dos seus livros?
Estudar psicologia torna uma pessoa muito consciente do limiar de comportamento entre “normal” e “doente mental”, e me interesso cada vez mais pelos eventos da vida de uma pessoa que a levam a andar em ambas as direções. Outra coisa, meus estudos em ciência genética me levaram a questionar seriamente se existe um ponto de vista feminino e um masculino, e tenho me esforçado para refinar esse pensamento enquanto desenvolvo personagens masculinos e femininos. Também fiz muitas pesquisas sobre transtorno de estresse pós-traumático, luto, depressão e suicídio. Isso tudo me ajudou a escrever da forma mais real possível (assim espero) sobre personagens cujas vidas passaram por momentos muito críticos. Escrevo sobre personagens que têm suas vidas destruídas por um evento, porque admiro a força deles quando reconstroem suas vidas. Acho que qualquer bobo pode ser feliz a vida inteira, mas é preciso um grande ser humano para redescobrir a felicidade depois de experienciar o horror.


Fonte: Intrínseca

Obs: O blog já está com a imagem e o link para formar parceria. Se quiser formar alguma, envie um e-mail para: ana_carolina_93@hotmail.com. Obrigada!





6 comentários:

  1. Foi o máximo essa entrevista!!! Eu também fiquei super feliz de ter uma pergunta minha selecionada =) Adorei!!!
    Acho que uma entrevista assim fica ainda mais interessante, pois realmente revela o que os fãs têm curiosidade de saber! Espero que a Intrínseca promova outras atividades do tipo com outros autores =)

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  2. Ana, que legal essa entrevista!
    E sua pergunta foi muito boa, parabéns!
    Eu ganhei Pequena Abelha, mas ainda não li. Está aqui, esperando a vez... rs.

    Beijão!

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  3. Gostei da entrevista e mais ainda de um tópico que não está na entrevista, mas no blog. O trecho de Alice no país das maravilhas me encanta, sobre o caminho a seguir, é uma quebra de paradigmas. concepções tão filosóficas.
    Parabéns
    Bjs
    Renata
    www.tecergirassois.blogspot.com

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  4. Que legal você ter sua pergunta escolhida! Mas tenho que confessar.... não gostei desse livro :S

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  5. Adorei a entrevista!!
    As perguntas estavam ótimas!

    Bjos!!

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